Huitlacoche

Carvão do milho atesta a pureza do plantio de sementes ancestrais

Os voluntários da ONG Paz sem Fronteiras que atuam o projeto ambiental denominado “Luz da Terra”, com o cultivo de sementes ancestrais, tiveram uma grata surpresa durante a colheita de milhos ancestrais em janeiro: a descoberta da presença do fungo Ustilago maydis dentro de algumas espigas.

Ustiago maydis
Espiga que abriga o fungo Ustiago maydis.

“É um tipo de fungo cosmopolita altamente especializado em colonizar os grãos do milho, que pode ser utilizado como alimento. No México a forma usada para o preparo de alguns pratos é conhecida como huitlacoche“, explica o biólogo e veterinário Luciano Pinheiro, voluntário da ONG Paz Sem Fronteiras. “Para este fungo existir, ele não pode ter qualquer contato com agrotóxicos ou outros combatentes químicos, pois é muito sensível. Sua presença serve como uma espécie de termômetro, demonstrando que a nossa plantação de sementes ancestrais realmente segue os padrões do cultivo natural, orgânico e biodinâmico, respeitando os ciclos da Natureza assim como os ciclos biológicos.”

Apesar de pouco conhecido no Brasil, este fungo tem alto valor nutricional. “Ele supre todas as necessidades do nosso corpo quanto aos requerimentos de aminoácidos essenciais, e também proporciona algumas proteínas e vitaminas. Dos 20 aminoácidos essenciais ao corpo humano, 11 são produzidos por nosso organismo. Os outro nove devem ser adquiridos por meio de nossa dieta alimentar. O Ustilago maydis oferece estes outros nove”, continua Luciano. “Preparado com o milho na forma de tortilla, tem-se uma refeição completa com esses nove aminoácidos. Os astecas consideravam que o huitlacoche era um presente enviado por Wiracocha por meio do deus Centeotl, o deus criador do milho.”

O plantio de milho em monocultura considera o Ustilago maydis indesejável, pois visa extrair o máximo de milho de cada espiga, e portanto enxerga sua presença como “doença”. Além do uso de substâncias que visam eliminá-lo da lavoura, hoje muitas sementes de milho são geneticamente modificadas para evitar o seu aparecimento. “Mas na verdade este é um organismo muito nobre, que vem honrar nosso plantio”, comemora Luciano.

Nos últimos quinze dias mais de oitenta quilos de milho foram colhidos em um terreno de 720 m². Os voluntários do projeto Luz da Terra também iniciaram o plantio de parte das sementes de feijão que foram colhidas no final de 2021, que foram espalhadas em uma plantação de 520 m².

Ao fim do dia, os voluntários celebraram mais uma jornada de trabalho com arranjos feitos com as espigas que haviam acabado de colher. A colheita de sementes ancestrais deve prosseguir por mais algumas semanas e o solo já está sendo preparado para nova semeadura.

Espigas de milho ancestral.
Voluntários do grupo Luz da Terra.

2 thoughts on “Carvão do milho atesta a pureza do plantio de sementes ancestrais

  1. Que interessante esse artigo! A natureza sempre ensinando a nos livrar dos estigmas e integrar o diferente. Curioso para conhecer esse sabor. Gratidão

  2. Comprei milho hoje na nossa cidade, encontrei numa espiga esse negócio chamado carvão de milho, nunca o tinha visto nem ouvido falar.
    Para enviar a foto como faço

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